Projeto Dignidade

Em 2016 foi a vez de Leonarda, que chegou a Casa do Papai Noel com apenas 2 anos de idade, quando sua família foi acolhida na campanha Natal o Ano Todo. Sempre muito tímida e quieta, foi se aproximando aos poucos, dividindo seus sonhos, objetivos e as muitas dificuldades vividas. Diferente das outras meninas, não buscava as roupas e sapatos disponíveis no nosso bazar, apesar de precisar muito, mas ia direto para os livros e sempre levava o máximo de títulos possíveis. Dentro de sua realidade familiar, convivia com os graves problemas de saúde de seus pais e o distanciamento dos irmãos que buscaram caminhos errados, ler e estudar eram seus maiores prazeres e melhores refúgios. O tempo passou e a menina cresceu.. Em 2013, algumas renas se reuniram e realizaram um dos muitos sonhos de Leonarda; uma festa, simples para muitos e perfeita aos olhos da menina, para comemorar os seus 15 anos. Leonarda não parava de dizer o quanto estava feliz, seus pais não paravam de agradecer e as renas se sentiram realizadas por proporcionarem aquele momento a todos. Ninguém poderia jamais imaginar e menos ainda se preparar para o que aconteceria a seguir.

Dois meses após a festa a família parou de ir buscar a cesta básica, os telefones de contato não mais recebiam ligações, no local dado como endereço ninguém sabia notícias (mais tarde soubemos que a família não podia informar o endereço real) e assim perdemos contato. Mas, o destino é caprichoso e, através da página de uma das renas no Facebook, Leonarda mandou uma mensagem pedindo ajuda, nossa menina precisava muito voltar para a Casa. Os motivos do afastamento eram muito tristes, sua mãe falecera alguns meses após a festa e seu pai faleceu 2 anos depois, para realizar seu enterro, precisou vender a geladeira. Seus irmãos invadiram, em seguida, a casa onde ela morava com os pais e a expulsaram com a roupa do corpo. Sem os pais, sem casa e sem dinheiro, uniu-se a única pessoa que lhe restava: o namorado Walace. Dessa união, nasceu a pequena Kézia, um sopro de alegria em meio a tantas tristezas e perdas. Seu companheiro não dispunha de muitos recursos, mas permaneceu a seu lado e juntos lutam por um futuro melhor. Mas, as dificuldades eram cada vez maiores. Toda vez que conseguia juntar o dinheiro para o ônibus, Leonarda ia até a Casa do Papai Noel em busca de ajuda, mas como não há expediente diário e ela não sabia as datas de entrega das

cestas básicas, não tinha sucesso e sua angústia aumentava, mas não perdia a esperança. Como ela mesma disse: “Eu não podia desistir, vocês eram minha única esperança, a única família que me restava. Eu precisava continuar tentando.” Seu esforço deu certo. Ela voltou a receber a cesta básica e a cesta de complementos alimentares, assim como nosso carinho e compreensão e aos poucos tomamos ciência dos problemas e dificuldades, mas não imaginávamos o quanto a sua realidade era dura. Como sempre se esquivava quando perguntávamos sobre a casa, como vivia, onde ficava, resolvemos ver de perto e foi muito triste o que encontramos. Viviam em um minúsculo cômodo, escuro, sem piso, as paredes só no tijolo; o banheiro era apenas um vaso e um cano de água, construído em um terreno cedido. Os móveis se resumiam a um colchão de solteiro, um berço, uma cômoda e uma TV antiga, todos doados e bastante surrados. As roupas eram poucas e o sapato era um chinelo. Quando ia a Casa do Papai Noel pegava uma sandália emprestada com a vizinha. Sua filhinha estava com déficit de peso e crescimento, mesmo com os alimentos recebidos desde o retorno, ainda não se recuperou totalmente. O companheiro perdeu o emprego e vive de “bicos”. Leonarda tentou continuar os estudos, mas a escola é bem distante de sua casa e como ia andando, teve de parar, pois a noite o local é muito perigoso e a falta de uma alimentação adequada dificultava o aprendizado e nem sempre tinha forças para ir até a escola. Eram tantos problemas a resolver, que buscamos atender conforme a urgência. A questão da alimentação estava contornada, a moradia era o próximo passo e não era uma solução simples. Leonarda pediu para construirmos um quarto e, se possível, melhorar o banheiro. Mas, aquela jovem família precisava de muito mais e, mesmo com a escassez de recursos financeiros, reunimos nossas forças e fizemos o nosso melhor.